Nova adaptação de Frankenstein dirigida por Guillermo del Toro já está disponível na Netflix e, em entrevista ao AdoroCinema, o designer de personagem Mike Hill relembra transformação de Jacob Elordi para o filme.
Um dos clássicos definitivos da literatura, Frankenstein se tornou também um ícone do cinema ao longo de décadas de inspirações e adaptações de sua história que, em 2025, ganham um novo título na lista. O diretor vencedor do Oscar Guillermo Del Toro tirou do papel o projeto que ele mesmo definiu como um dos grandes sonhos de sua vida e transformou Jacob Elordi (Euphoria) na famosa criatura – um trabalho, aliás, feito com efeitos práticos e muitas, muitas horas de preparação do ator.
Em entrevista ao AdoroCinema, o designer de personagem Mike Hill, responsável pela criação do visual do monstro em Frankenstein, deu mais detalhes sobre o processo de construção do personagem e sobre a paciência, segundo ele, sem fim do ator durante o processo de transformação. Mike já trabalhou com Del Toro antes em outras grandes produções do cineasta, como A Forma da Água e O Beco do Pesadelo e nos contou também sobre a bem sucedida parceria com o diretor. Confira a entrevista completa.
AdoroCinema: Qual é o ponto de partida para construir um monstro como este? Pergunto especialmente em termos de equilibrar o espírito do clássico e encontrar uma nova versão que se conecte com esta adaptação.
Mike Hill: Você tem razão. Foi extremamente complicado criar algo novo porque já existem centenas de filmes sobre a criatura de Frankenstein e o público a considera um ícone da cultura pop, sabe, a cabeça quadrada e a pele verde… O que é muito difícil de combater. Então, basicamente, você tem que chegar com algo novo e pensar: “ok, o que ainda não foi feito?”.
Então, literalmente pesquisei sobre práticas médicas e cirurgias do século 18; também queria que nossa criatura parecesse ter sido feita nos anos 1800 e não moderna. Então, esse foi o maior desafio: criar algo com aparência vintage.
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A: Você já trabalhou com Guillermo Del Toro antes, então gostaria de saber o que acha que é o aspecto mais único da criatividade dele como diretor.
M: Ele é absolutamente visionário. As coisas em que ele pensa… Não sei como faz isso. Simplesmente vêm do nada. Guillermo é um artista que te torna melhor porque quando você pensa que algo já está feito, ele dá um passo a mais ou acrescenta um elemento diferente dizendo ‘e se tentássemos isso’?. E geralmente ele está muito certo. Acho que ele tem essa imaginação muito astuta e única.
A: Além do trabalho com o diretor, tenho curiosidade sobre como você trabalha com o ator que está interpretando o personagem que você desenhou. Pode me contar um pouco sobre a colaboração com Jacob Elordi em Frankenstein?
M: Primeiramente, precisei conversar com Jacob e dizer: “olha, isso vai ser muito desconfortável. Você provavelmente não vai gostar de mim e eu não vou gostar de você às 2h da manhã quando tivermos que fazer isso”. Mas o Jacob estava tão, tão entusiasmado. Disse que queria fazer aquilo e que entendia o processo.
E, claro, Guillermo sentou-se com ele e explicou de forma muito mais clara e objetiva do que eu sobre como lidar com a maquiagem, como usar esse tempo na cadeira para se tornar o personagem, para se distanciar do mundo enquanto colocava as próteses. Jacob foi um grande trunfo e não acho que poderíamos ter feito este filme sem ele.
A maquiagem, às vezes, levava 10 horas para ser feita. Então, um ator aguentar isso como Jacob fez é um profissionalismo impecável e um sinal óbvio de que esse jovem realmente queria interpretar bem esse personagem. Acho isso fantástico.
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A: E também teve a maquiagem para Mia Goth, que é um tipo diferente de trabalho.
M: Fico feliz por você mencionar isso porque as pessoas não falam [sobre essa maquiagem]! Mia também tinha que interpretar a mãe do Victor. Então, esculpi uma peça com sobrancelhas nariz diferentes para ela, um pouco mais arqueadas. O que fiz foi dar a ela a expressão sisuda o do Victor e tentei fazer a escultura parecer um pouco com Oscar Isaac.
A maquiagem foi realmente um sucesso, as pessoas no set não sabiam que era a Mia e pensavam que tínhamos contratado algum tipo de dublê de corpo. Perguntavam: “essa é realmente a Mia?”. Isso foi muito gratificante porque era exatamente o que tinha que dar certo. Então, obrigado por falar disso.
A: Vimos muitas adaptações de Frankenstein ao longo das décadas, como você disse antes, e parece que o coração dessa história nunca fica ultrapassado. Então, como você acha que essa nova versão pode se conectar com o público atual?
M: Acho que a nossa versão, a versão do Guillermo, é sobre paternidade até certo ponto. Sobre um bebê maltratado pelo pai – o que infelizmente acontece muito. Então, ele começa a crescer e se torna um adulto maduro que finalmente diz: “Sabe de uma coisa? Nada disso foi culpa minha. Alguém fez isso comigo. Vou me vingar dessa pessoa”. O que é muito adulto. Vingança é [um tema] muito adulto.
Acho que o que eu adoro é como o Guillermo trabalhou esses estágios de progressão da personalidade da criatura. Ele não nasce um monstro e age como um monstro. Ele nasce como uma criança e o mundo o força a se tornar o monstro.
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A: Por fim, acho que ter criaturas “reais”, feitas manualmente, maquiagem e outros objetos reais na tela fazem uma história parecer mais viva. Então, gostaria de saber como você vê a evolução desta profissão ao longo dos anos, especialmente considerando o uso de efeitos gráficos e, agora, da inteligência artificial.
M: Quando a computação gráfica surgiu, havia uma preocupação de que os efeitos com maquiagem fossem, basicamente, erradicados. Mas isso não aconteceu. No início, houve uma profusão de personagens que deveriam ter sido criados com recursos práticos e as pessoas estavam ansiosas para fazê-los digitalmente porque achavam que esse era o caminho, mas isso não deu certo. Então, finalmente, chegou-se a um equilíbrio que funcionou bem.
Agora, a questão da IA… Eu ainda não sei como responder a isso porque ainda está nos primórdios, mas acredito que o problema com a IA é que ela não tem alma. Não importa que você possa dizer “crie um monstro que faça isso e aquilo”. Falta um elemento, que é a alma. Você olha para qualquer obra de arte feita com IA e ela sempre parece fria. Não parece calorosa, não há humanidade alguma nela. Então, acho que esse é o problema.
No entanto, quem sabe, talvez, no futuro, integremos a IA ao nosso trabalho, como os efeitos visuais. O mundo vai avançar… E Frankenstein é basicamente sobre isso, né? Mexer com a ciência tentando melhorar coisas e, em algum momento, ir longe demais e estragar algo. Acho que a inteligência artificial poderia ser uma boa metáfora para Frankenstein.
Frankenstein está disponível na Netflix.




