Setenta e oito bairros de oito municípios da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) registraram expulsões de moradores perpetradas por facções criminosas entre 1º de janeiro de 2024 e 30 de setembro de 2025, conforme o Relatório Técnico nº 224/2025/DRCO/PCCE, que se baseia em dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
Como O POVO já havia mostrado na sexta-feira, 31, é na Grande Fortaleza que se concentra a maioria dos eventos nos quais foram registrados deslocamentos forçados de moradores no Ceará. Fortaleza lidera o número de casos registrados, com 143 eventos com expulsões de moradores.
Os casos estão distribuídos por 49 bairros da Capital. Das 10 Áreas Integradas de Segurança (AIS) nas quais a SSPDS divide Fortaleza, é na AIS 9 onde está registrado o maior número de casos.
Foram 33 eventos na AIS 9, ocorridos no José Walter, no Canindezinho, no Mondubim, no Planalto Ayrton Senna, no Loteamento Parque Montenegro, na Vila Manuel Sátiro, na Maraponga, no Novo Mondubim e no Parque São José.
Depois de Fortaleza, o município com mais registros de eventos com expulsões de moradores é Maranguape: são 19 casos. Está também em Maranguape o bairro fora de Fortaleza com o maior número de ocorrências de deslocamentos forçados.
Com 11 eventos com expulsões de moradores, o bairro Novo Maranguape só fica atrás, em todo o Estado, dos bairros Ancuri, José Walter e Vicente Pinzón, todos estes localizados em Fortaleza. Maranguape ainda registrou deslocamentos forçados em outros cinco bairros: Gavião, Guabiraba, Maranguape II, Outra Banda e Parque São João.
No relatório do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO), também aparecem: Maracanaú (com 16 eventos de deslocamentos forçados), Caucaia (15), Sobral (7), Pacatuba (2), Quixadá (2) e Cascavel (1), Eusébio (1) e Horizonte (1)
Em Maracanaú, os crimes ocorreram nos bairros Pajuçara, Alto da Mangueira, Antonio Justa, Jaçanau, Alto Alegre II, Boa Esperança, Furna da Onça, Jari, Mucunã, Parque Tropical e Piratininga.
Já em Caucaia, as expulsões de moradores registradas se deram em: Jurema, Curicaca, Parque Leblon, Araturi, Itambé, Paumirim, Tabapuazinho e Ypacarai.
Pacatuba, por sua vez, teve seus dois eventos registrados na Pavuna. Em Cascavel, o único caso registrado ocorreu no Centro. E os bairros Coaçu, no Eusébio, e Zumbi, em Horizonte, registram um caso cada.
Município com maior número de expulsões de moradores fora da RMF, Sobral aparece com casos no Centro, Sumaré, Caiçara e Santa Casa.
O Relatório Técnico nº 224/2025/DRCO/PCCE é datado de 17 de outubro passado. Na peça, os analistas do DRCO afirmaram estar ocorrendo um aumento no número de expulsões de moradores nos últimos meses. Os policiais creditam esse “crescimento significativo” à rivalidade entre as facções Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP).
Em setembro, diante de um contexto de avanço do CV em territórios como o bairro Vicente Pinzón e a comunidade do Lagamar, os integrantes da Guardiões do Estado (GDE) decidiram passar a integrar o TCP, o que fez intensificar o confronto com os rivais.
Expulsões no Cidade Jardim I: sete suspeitos são presos
Entre os “casos emblemáticos” de expulsões de moradores no Ceará destacados no Relatório Técnico nº 224/2025/DRCO/PCCE estão os ocorridos no residencial Cidade Jardim I, localizado no bairro José Walter, em Fortaleza. Nas últimas três semanas, O POVO identificou que pelo menos sete prisões de suspeitos de integrar facções criminosas envolvidas com a prática foram efetuadas.
Em 29 de outubro, quatro pessoas foram presas: Glairton Pires Barbosa Filho, Esdras Evangelista Sousa da Silva, Manoel Joaquim da Silva Neto e Francisca Erica Saraiva Martins. No dia anterior, havia sido a vez de Iran de Moura ser preso, enquanto, Francisco Felipe da Silva Barbosa havia sido autuado em 22 de outubro.
Por fim, no dia 13, Matheus Teotônio Aguiar foi preso. Todos eles foram apontados pela Polícia Civil do Ceará (PC-CE) como integrantes do Terceiro Comando Puro (TCP), facção que age no Cidade Jardim I em oposição ao Comando Vermelho (CV), que atua no Cidade Jardim II.
O Relatório Técnico nº 224/2025/DRCO/PCCE foi anexado a alguns desses Autos de Prisão em Flagrante (APFs). Conforme as peças judiciais, as expulsões ocorreram após os moradores serem acusados de terem algum tipo de relação com o CV, o que pode ser um mero parentesco.
Em alguns dos depoimentos das vítimas que depuseram, é dito que os deslocamentos estão ocorrendo por ordem de João Paulo Félix Nogueira, o “Paulim das Caixas”, que seria o chefe do TCP no Cidade Jardim. Ele é procurado pelas Forças de Segurança do Estado.
João Paulo havia sido acusado de ser um dos mandantes da Chacina do Forró do Gago, que, em 2018, deixou 14 mortos em uma casa de shows localizada no bairro Cajazeiras, em Fortaleza. Ele, porém, foi impronunciado após a Justiça entender que não havia provas suficientes contra eles.
Com a decisão, João Paulo foi solto. Os depoimentos ainda acusaram João Paulo de proibir provedoras de internet não “autorizadas” por ele de prestar serviços no Cidade Jardim I.
As expulsões de moradores do Cidade Jardim I fizeram com que o bairro José Walter aparecesse no Relatório Técnico nº 224/2025/DRCO/PCCE como o bairro com o maior número de casos de deslocamentos forçados no Estado, ao lado do Ancuri.
Ambos os bairros registraram 16 eventos com expulsões de moradores entre 1º de janeiro de 2014 e 30 de setembro de 2025.
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