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Trump faz da crueldade sua arma e seu objetivo – 09/10/2024 – Lúcia Guimarães

Imaginem a expectativa da chegada de um evento terrível —Milton, já apelidado de furacão do século. Mais de 5 milhões de habitantes forçados a fugir de casas que podem não estar mais de pé em 24 horas. Comunidades inteiras expostas à destruição e toda a costa oeste da Flórida redesenhada pela fúria do vento e do oceano. Um perigo tão grande que as autoridades pedem aos que resistiram a procurar abrigo que escrevam seus nomes, facilitando a identificação dos corpos.

Agora imaginem alguém decidido a agravar esta catástrofe. Improvável? Que tal o homem mais rico do mundo propagando desinformação na sua conta com 200 milhões de seguidores no X, obstruindo o trabalho de agências encarregadas de proteger a população?

O renomado climatologista americano Michael Mann disse em entrevista nesta semana: “Não tenho a menor dúvida de que Elon Musk se engajou em atividade criminosa que coloca o país e as pessoas em perigo,” ao postar mentiras sobre as operações de resgate do governo.

Em 2018, antes do fim do segundo ano de mandato de Donald Trump, o jornalista Adam Serwer começou a tentar catalogar o “turbilhão de crueldade que pode ser difícil de acompanhar”. A expressão que ele escolheu —”a crueldade é o ponto”— se tornou uma das mais usadas para descrever a Presidência do republicano. Depois da invasão do Capitólio, os exemplos eram tantos que Serwer reuniu seus ensaios num livro.

Como lembra o autor, Trump não é a causa, mas o sintoma da crueldade que o folclore ufanista dos Estados Unidos ainda resiste a admitir como parte integral de sua história.

É um impulso, originado na identidade supremacista branca, de sentir regozijo pelo sofrimento do outro que é odiado ou temido. Mas Serwer não tinha bola de cristal em 2021 —quem seria tão pessimista?— para prever o grau de infiltração da crueldade na política, na mídia e no cotidiano dos americanos.

À medida que sua saúde mental se deteriorou e seus problemas legais aumentaram, Trump transformou a campanha presidencial numa orgia de promoção e promessas de crueldade e mantém sua base de apoiadores num transe de pornografia sadista.

Quem assistiu à convenção do Partido Republicano, em julho, não podia desviar o olhar do mar de cartazes distribuídos aos eleitores com a frase “deportação em massa.” Em uma segunda Presidência Trump, qualquer imigrante, mesmo em situação regular, estará à mercê dos planos do filho de Fred Trump, preso uma vez em uma manifestação da Ku Klux Klan, com quem sua possível associação nunca ficou bem explicada.

Estreou nesta semana em Nova York o documentário “Separated”, do grande diretor Errol Morris, ganhador de um Oscar por “Sob a Neblina da Guerra”. A nova obra, um doloroso “ensaio sobre o fascismo”, nas palavras do diretor, é seu esforço para tentar convencer o público americano a não permitir a repetição do mais grotesco espetáculo de crueldade montado por Trump, a separação de 5.500 crianças imigrantes de seus pais.

Morris, um judeu descendente de refugiados, expõe o papel de funcionários públicos que, numa evocação da “banalidade do mal” examinada por Hannah Arendt, cumpriram as ordens de Trump.

Infelizmente, o filme só teve exibição de uma semana em Manhattan. Comprado por um canal à cabo de propriedade da operadora Comcast, só será exibido um mês depois da eleição, supostamente por ordem de executivos temerosos de irritar Trump. Morris, indignado, sugeriu: “Tirem suas conclusões.”


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