John Galvan foi inocentado de um crime dos anos 1980 após assistir a uma reprise de MythBusters, no Discovery Channel.
Eles usavam ciência, explosões e bom-humor para provar (ou desmentir) fenômenos curiosos e lendas urbanas que sempre ouvimos por aí. Com essa fórmula irresistível, os MythBusters – Caçadores de Mitos se tornaram uma febre mundial, graças ao programa de sucesso exibido pelo Discovery Channel e apresentado pela dupla Adam Savage e Jamie Hyneman.
O que muita gente não sabe é que a atração foi além do entretenimento: em um dos episódios, uma conclusão científica vista no programa ajudou a inocentar um homem que havia sido preso injustamente. Vem entender melhor essa história!
Obrigado a confessar um crime
Tudo começou em setembro de 1986, quando um incêndio devastou um prédio residencial de Chicago, nos Estados Unidos. A tragédia resultou na morte dos irmãos Julio e Guadalupe Martinez, enquanto Blanca e Jorge, os outros dois irmãos, conseguiram escapar do fogo.
Na época, os irmãos sobreviventes disseram que uma vizinha havia ameaçado incendiar o edifício como forma de vingança contra Jorge, suspeito de envolvimento com uma gangue. A mulher negou qualquer participação e, em vez disso, atribuiu a culpa a John Galvan, um jovem de 18 anos. Outros vizinhos também testemunharam contra ele.
Apesar de Galvan afirmar que estava dormindo na casa da avó na hora do incêndio, ele não tinha provas que sustentassem sua inocência – e é aí que a história se complica.

Reprodução/The Innocence Project
A polícia, então, prendeu o jovem e outros suspeitos. Galvan foi interrogado por horas, e seu interrogatório foi conduzido, em grande parte, pelo detetive Victor Switski. Com o uso de violência, tortura e táticas de engano (como a promessa de clemência em troca de uma confissão), o adolescente foi coagido a assumir um crime que não cometeu. E assim o fez.
A declaração assinada por Galvan dizia que ele, o vizinho Arthur Almendarez e Francisco Nanez (cunhado de Arthur) haviam iniciado o incêndio jogando uma garrafa cheia de gasolina no prédio. Como ela não quebrou, segundo os registros, eles teriam jogado um cigarro no líquido, que acabou pegando fogo. Os três foram condenados e sentenciados à prisão perpétua.
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John começou a cumprir a pena e chegou a recorrer da decisão diversas vezes, mas não conseguiu sua libertação. Tudo isso só começou a mudar em 2007, quando ele já estava há 21 anos atrás das grades. Na ocasião, assistiu a uma reprise de Caçadores de Mitos, originalmente exibida em 2005, e encontrou ali uma forma de provar sua inocência.
Salvo pelos Caçadores de Mitos
No episódio em questão, os apresentadores do programa levantaram a hipótese de que um cigarro aceso poderia incendiar gasolina derramada, como já tinham visto em muitos filmes de Hollywood. Mas, depois de várias tentativas frustradas, eles determinaram que era muito improvável que jogar um cigarro na gasolina pudesse causar um incêndio. Bingo!
“Lembro que fiquei animado, extremamente feliz, porque isso se somou às outras coisas que estavam acontecendo naquele momento. Senti que finalmente tudo estava começando a se resolver”, afirmou John em um artigo publicado no site Innocence Project.

Reprodução/The Innocence Project
Por coincidência, sua advogada, Tara Thompson, também havia assistido à mesma reprise. “Honestamente, foi chocante para mim… Eu sinto que todos nós vimos filmes, onde eles acendem a gasolina na rua com um cigarro e um carro explode, Eu realmente nunca tinha pensado muito se isso poderia ou não ser real”, comentou a profissional.
Em 2017, a equipe jurídica de Galvan levou ao tribunal novas testemunhas que confirmaram seu álibi, além de pessoas que também disseram ter sido coagidas pelo mesmo detetive. Um perito em incêndios criminosos também reforçou que a confissão de Galvan não fazia sentido – cientificamente, o que ele descreveu não era possível.
Cinco anos depois, em 2022, Galvan, Almendarez e Nanez tiveram suas condenações anuladas e foram oficialmente inocentados do crime – graças, em parte, à revelação feita pelos Caçadores de Mitos. Os três homens passaram 35 anos na prisão antes de serem libertados e devem receber uma indenização de 48 milhões de dólares do estado.