Poderia ter sido uma das melhores séries da plataforma, mas só será lembrada como um fracasso milionário.
No início da década passada, Carl Rinsch era um dos cineastas emergentes mais conceituados de Hollywood. Aliás, o próprio Ridley Scott, para quem fez vários comerciais, o abordou com a ideia de fazer um prelúdio de Alien e estava prestes a filmar um remake de Fuga no Século 23 (que trocou de diretor várias vezes até não dar em nada). Mas, 15 anos depois, ele sequer tem dinheiro para viajar para outra cidade e comparecer ao seu próprio julgamento por desperdiçar o dinheiro que a Netflix lhe deu. O objetivo? Fazer uma série de ficção científica que jamais teve um único episódio finalizado.
11 pequenos milhões
Rinsch dirigiu apenas um filme em toda a sua carreira, 47 Ronins, estrelado por Keanu Reeves, que custou US$ 225 milhões e mal recuperou US$ 150 milhões. Sabemos como Hollywood é, essas coisas acontecem. Depois disso, ele voltou a fazer comerciais até ter uma ideia brilhante com sua esposa, Gabriela Rosés: uma série de ficção científica sobre humanos artificiais que precisam confrontar todos os tipos de conspirações enquanto tentam fornecer ajuda humanitária ao redor do mundo.
Santiago Cerini/Netflix
O nome, White Rabbit, foi posteriormente alterado para Conquest, e a trama foi gravada até a produtora 30West ficar sem dinheiro. Depois, o próprio Reeves assumiu como produtor e, finalmente, a Netflix concordou em investir os US$ 61,2 milhões necessários para completar o orçamento. O problema é que as filmagens não foram exatamente agradáveis – em parte porque Rinsch se envolveu com uma nova droga, a lisdexanfetamina, que deixou seu cérebro em estado de decomposição.
Depois de passar por uma reabilitação (paga pelo orçamento da série) e antes de começar a apresentar comportamentos erráticos, Rinsch pediu à Netflix mais US$ 11 milhões para concluir Conquest. E eles lhe deram o dinheiro, apesar de não terem visto uma única imagem do projeto até aquele ponto. O diretor passou a gastar o dinheiro em criptomoedas e apostas na bolsa de valores, perdendo US$ 6 milhões em poucas semanas.
Naquela época, ele começou a enviar e-mails aos executivos da Netflix dizendo que conseguia encontrar o sinal do coronavírus emanando do núcleo da Terra, que aviões são forças orgânicas e inteligentes e que ele poderia prevenir erupções vulcânicas e raios. Sua esposa acabou se divorciando, a Netflix o cortou e todos começaram a perceber que nunca veriam Conquest concluída.

Santiago Cerini/Netflix
Vencendo o fracasso
Ele ainda teve tempo de investir o pouco dinheiro que lhe restava do orçamento na compra da criptomoeda Dogecoin e ganhar – desta vez – US$ 23 milhões, que voltou a gastar em carros, hotéis de luxo e todo tipo de loucura extravagante. A Netflix entrou com um processo – que segue em andamento – e, em março, Rinsch foi preso sob acusações de fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e envolvimento em transações monetárias com recursos provenientes de atividades ilícitas.
No total, se o júri o considerar culpado de todas as acusações, ele poderá pegar 90 anos de prisão. A última informação que temos, graças ao Deadline, é que o diretor declarou falência total – a ponto de não conseguir pagar uma viagem de Los Angeles até Nova York para comparecer à audiência preliminar de seu próprio julgamento.
Seus defensores públicos já solicitaram que as despesas de viagem e hospedagem sejam pagas pela justiça norte-americana. Ted Sarandos, chefão da Netflix, Keanu Reeves e outros podem estar envolvidos no julgamento, e parece que não vai acabar nada bem para o diretor.