Disponível no streaming, este filme foi responsável por revitalizar um dos subgêneros mais controversos da comédia.
Não precisa ser nenhum especialista em sétima arte para distinguir um filme que se leva a sério de outro que vai pelo caminho do absurdo. Longe de ser um demérito seguir pela segunda opção, sabemos que a indústria cinematográfica é um meio que oferece a oportunidade de produzir os mais variados tipos de história. Aí está a graça de adorar cinema, aliás. É justamente por isso que parte do mercado não teve medo nem vergonha de apostar em algo que passamos a chamar de besteirol.
Parte intrínseca da formação de muitos cinéfilos que cresceram entre os anos 1990 e 2000 – mesmo aqueles que seguiram por caminho mais tradicionais -, este subgênero da comédia se popularizou no começo do século a partir de entradas que tiveram um fervor absurdo com o público jovem, mas surgiram bem antes, com filmes como Porky’s – A Casa do Amor e do Riso, lançado em 1982.
Responsável por inspirar uma série de filmes que conhecemos através da TV aberta, que vão de American Pie a Superbad – É Hoje, este longa também abriu precedentes para abordagens cada vez mais incisivas e metalinguísticas. Todo Mundo em Pânico é uma joia emergente da trajetória dos besteiróis, que, embora hoje tenha uma alta gama de questões problemáticas, foi responsável por apresentar a paródia de tudo o que efervescia no cinema da época.
Sim, talvez este seja um dos filmes mais bobos de todos os tempos justamente por revitalizar a ideia do que Porky’s trouxe ao cinema, mas com o frescor do começo dos anos 2000 e forte apelo ao público infanto-juvenil. A paródia feita ali era tão autorreferencial à sétima arte, que tornou-se o início de uma franquia de cinco filmes – sem contar o vindouro sexto capítulo -, além de inspirar outros projetos.

Dimension Films
Não é Mais Um Besteirol Americano, Super-Herói: O Filme, Espartalhões, Deu a Louca em Hollywood e Os Vampiros que Se Mordam são apenas alguns dos longas que seguiram a tendência que chegou até ao campo das animações com Deu a Louca na Chapeuzinho. Embora muitos seguissem a ideia de fazer graça com propriedades intelectuais conhecidas, era muito fácil caírem apenas no mau gosto e não chegarem nem aos pés da saga criada pelos irmãos Wayans – que já não era tão exemplar assim.
O grande problema dessas narrativas já era observado na época de seus lançamentos e foram apenas acentuados com o passar dos anos: excessivas piadas escatológicas, apoio na comédia física, roteiros fracos, humor grosseiro e, claro, uma enxurrada de ofensas a minorias e estereótipos que envelheceram muito mal. Isso nos coloca num lugar muito importante para quem adora cinema: entender que tudo é um produto do seu tempo.

Dimension Films
Com 51% de aprovação da crítica no Rotten Tomatoes, o título considerado “muito cruel e grosseiro para provocar risadas”. Robert Ebert, um dos profissionais mais respeitados do meio jornalístico, o considerou “uma paródia boba que, às vezes, acerta, mas mais frequentemente erra pelo exagero”. Ainda assim, existiam considerações positivas: “Um filme que não tem medo de ser idiota – e isso é seu maior charme”, também ponderou o crítico do Chicago Sun-Times.
Ainda que o consenso fosse negativo, grandes veículos reconheceram o frescor do projeto com avaliações. “Os irmãos Wayans sabem como rir com – e não apenas de – seus personagens”, escreveu o Los Angeles Time. Já a Variety focou em uma das protagonistas: “Anna Faris prova que pode ser uma estrela da comédia, roubando todas as cenas em que aparece”, descrevia a publicação.
Todo Mundo em Pânico e Corra! tiveram um filho: Netflix recebe uma das melhores comédias da década
É preciso entender que aquilo foi feito em uma época em que discussões sociais apenas tocavam na superfície da indústria cinematográfica mainstream, algo que, embora ainda tenha outros problemas nas engrenagens, é feito de uma maneira geralmente respeitosa atualmente.
Inclusive, é justamente por isso que a existência de um vindouro Todo Mundo em Pânico 6 é uma das apostas mais arriscadas do cinema atual: como trazer a energia caótica e referencial dos filmes originais sem cair neste caminho da ofensa apelativa?
Todo Mundo em Pânico vai voltar! Aqui estão alguns filmes de terror que devem ser satirizados no retorno do besteirol
Ao rever o filme, na verdade, pude notar uma genuína intenção em tirar graça não apenas do cinema assim como Pânico sempre fez com suas tramas metalinguísticas – e daí que vem o nome da paródia -, mas também encontrar maneiras bobas de tirar o riso com uma equipe de produção irreverente. Existem muitas sequências que não contam com nenhum tipo de agressão além dos personagens causando situações ridículas – e isso tem seu charme quando feito com carisma e timing cômico.
O filme foi responsável por oxigenar o subgênero das paródias, que tem vários expoentes nas décadas anteriores, ao subverter filme de terror. Tudo isso enquanto tentava mostrar à audiência que o cinema pode também não se levar a sério a partir de um humor escrachado. A fórmula se esgotou, tanto que não vemos mais produções como estas atualmente, mas a chegada desta sequência prevista para junho de 2026 pode mudar tudo.

Paramount Pictures
Todo Mundo em Pânico, Todo Mundo em Pânico 3 e Todo Mundo em Pânico 4 podem ser vistos gratuitamente no catálogo do Mercado Play. Já o último filme está no Telecine. O Paramount+ também conta com toda a trilogia inicial.