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Eu assisti e posso afirmar: Remake de Quarto do Pânico traz tempero brasileiro para suspense claustrofóbico de David Fincher (Entrevista exclusiva) – Notícias de cinema

Quarto do Pânico faz releitura de clássico hollywoodiano com discussões brasileiras e elenco de alto calibre. O longa de Gabriela Amaral Almeida integrou a programação do Festival do Rio 2025.

Uma mãe e sua filha adolescente se mudam para uma mansão numa área nobre da cidade. Dentro da casa, um cômodo isolado e fortificado guarda um cofre valioso onde dentro está uma quantia alta em dinheiro. Durante a primeira noite na nova residência, mãe e filha são obrigadas a se refugir no quarto impenetrável quando três bandidos invadem a casa em busca justamente da fortuna escondida no aposento protegido.

Não se engane, não estamos falando do clássico suspense de David Fincher, Quarto do Pânico. Mas sim, de seu remake brasileiro, que acaba de estrear como parte da programação do Festival do Rio 2025. Na maior sala do tradicional cinema de rua da cidade, o Estação NET Botafogo, uma plateia lotada se esquivava de tensão com a releitura que trouxe, segundo sua diretora, uma “carpintaria dramatúrgica nova”.

Acho que ele é um filme inteiramente novo porque ele parte de uma situação de trauma muito específica. Ele recontextualiza os fatos do filme original para a realidade brasileira e, por mais que se reconheça alguns eventos em comum com o filme do Fincher, acho que é um filme de carpintaria dramatúrgica nova, de abordagem das relações nova, e com uma maneira de filmar também diferente. É um filme que pedia essa atualização“, comentou Gabriela Amaral Almeida, cineasta por trás também de outros longas consagrados do cinema de gênero brasileiro, como O Animal Cordial e A Sombra do Pai.

Quarto do Pânico adapta suspense hollywoodiano com DNA brasileiro

Floresta

Quem concorda com Gabriela é Fábio Mendes, responsável pela adaptação dessa trama originalmente pensada pelo premiado roteirista David Koepp. Segundo Mendes, traduzir uma história tão americana para um contexto brasileiro era o maior desafio do projeto.

É um filme de 20 anos atrás, então, muita coisa mudou. [Nosso desafio era] pegar a premissa e o DNA forte do longa e adaptar para uma realidade nossa, que encantasse e dialogasse com os brasileiros, com a gente. A questão da violência urbana, então, é muito forte, e acho que só piorou em 20 anos“, afirmou o roteirista para o AdoroCinema durante a noite de estreia.

Entre as diferenças do original com a versão brasileira, é justamente o tema da insegurança pública que separa as motivações das protagonistas. No enredo adaptado, Mari, brilhantemente interpretado por Ísis Valverde, vive o luto da perda do marido, que, durante um assalto à mão armada, é assassinado na frente da esposa. A partir desse evento traumático, ela procura se blindar do perigo ao buscar uma casa ultraprotegida, com um sistema de segurança e monitoramento avançado e um quarto fortificado.

Narrativas concentradas dão, tanto ao realizador, quanto ao escritor, uma possibilidade de explorar diversas facetas de uma só questão, tanto do ponto de vista dramatúrgico, quanto do ponto de vista da mise-en-scène da câmera“, comenta Gabriela Amaral sobre o espírito claustrofóbico da trama e do estado mental das protagonistas, algo já explorado em seu longa de estreia O Animal Cordial. “Estar num só espaço pede do realizador um exercício de criatividade para que ele se multiplique e tenha diferentes temperaturas

Em Quarto do Pânico, personagens realçam camadas da realidade sociopolítica brasileira

Floresta

No caso de Quarto do Pânico, a casa blindada reflete os medos e o sofrimento de Mari, reverberando, com isso, o cenário social inseguro e violento de um país profundamente desigual. Foi essa visão afiada de Gabriela Amaral para os problemas do país, inclusive, que convenceu Caco Ciocler a embarcar no papel de Raul, o mais misterioso e (aparentemente) ardiloso entre os três invasores.

Quando eu vi o original, que é um clássico, eu não entendi porque fazer esse filme. Achei uma história meio envelhecida. Foi inteligência dela [da Gabriela Amaral Almeida] sacar que nós, no Brasil, estamos acostumados com uma certa vulnerabilidade da violência urbana que, nos Estados Unidos, soa um pouco estranha. Essa coisa de estar sempre achando que alguma coisa pode acontecer. Já andamos com medo pela cidade. Ela trouxe esse medo brasileiro de um jeito muito inteligente“, declarou Ciocler, apontando também que a dificuldade de acessar seu personagem psicologicamente foi um trunfo para a sensação de enclausuramento do longa.

Você não sabe do que ele é capaz. Personagem dificílimo. Não entendíamos quem ele era durante o processo inteiro, nem de onde ele veio. Tentávamos uma coisa e não dava certo, tentávamos outra no roteiro e não casava. Até que entendemos que era legal apostar nesse cara em que o perigo dele está em você não saber quem ele é

Diferente da incógnita que é Raul, os objetivos e contornos de seus dois comparsas, Charlie (Marco Pigossi) e Benito (André Ramiro), se apresentam muito claramente e compõem um mosaico interessante das desigualdades sociopolíticas do país. Enquanto Charlie embarca no roubo por uma ambição mesquinha e pelo puro prazer da violência e do perigo, Benito, por outro lado, corre esse risco em nome de seu filho, que está gravemente doente e precisa realizar um tratamento caro. Charlie é um sujeito com dinheiro vindo de berço, enquanto Benito é um profissional de TI, que precisamente trabalha instalando sistemas de segurança em mansões milionárias.

A briga de gato e rato que se segue durante os 98 minutos de filme, então, mantém todas essas dinâmicas em suspenso e brinca com essas camadas sem deixar os elementos de apreensão e expectativa de lado. O desfecho, aliás, após um clímax intenso, coloca Mari no protagonismo da resolução, uma escolha narrativa bem diferente da de Fincher e Koepp. Essa decisão conversa com os temas que, segundo Gabriela Amaral, interessam ao seu modo de fazer cinema e contar histórias.

A questão entre mãe e filha, o embate entre classes sociais diferentes, o embate entre feminino versus masculino. Essas questões me interessam investigar e aprofundar, tanto em câmera, quanto em atuação e direção. Eu não revi o filme do Fincher porque eu acho que é um autor com sua poética, sua visão de mundo, sua realidade. Um artista está dentro de um contexto, ele não é uma coisa isolada. Ao não rever, isso me permitiu investigar as novas situações dramáticas como se fossem, de fato, filme inédito”

O Festival do Rio 2025 aconteceu entre os dias 2 e 12 de outubro, com direito a uma repescagem entre os dias 13 a 15 de outubro.

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