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Ele criou um dos monstros mais aterrorizantes do cinema e quase morreu no processo: Para piorar, não parava de ter pesadelos – Notícias de cinema

A criatura de O Enigma de Outro Mundo gelou o sangue do público, mas seu criador experimentou o verdadeiro horror durante as filmagens.

Muito já se falou sobre O Enigma de Outro Mundo, de John Carpenter: a paranoia que infecta os protagonistas na base antártica, os horrores lovecraftianos que emergem a cada mutação, a atuação inesquecível de Kurt Russell, entre outras referências.

No entanto, muito menos se fala sobre a criatura em si, a Coisa, aquele ser mutante que aterrorizou toda uma geração de espectadores, e especialmente seu criador: Rob Bottin. Com apenas 22 anos e um orçamento apertado, Bottin deu vida a uma das criaturas mais icônicas do cinema de ficção científica, mas isso quase lhe custou a vida.

O trabalho de Rob Bottin em O Enigma de Outro Mundo é lendário. Ele assumiu a responsabilidade de criar todos os efeitos práticos para as grotescas mutações alienígenas, desde o cachorro que se transforma até os corpos humanos retorcidos e desmembrados. Por mais de um ano, Bottin praticamente morou no estúdio, obcecado em tornar cada criatura não apenas convincente, mas aterrorizante em sua forma mais pura. Sua paixão era tanta que o próprio diretor John Carpenter relembrou, em uma excelente entrevista à Fangoria, como o jovem artista se imergiu completamente em sua criação, com tamanha intensidade que chegou perto da autodestruição física e mental.

Uma obra-prima incompreendida

Quando O Enigma de Outro Mundo estreou em 1982, a resposta da crítica e do público foi morna. Em um verão dominado por E.T. – O Extraterrestre de Steven Spielberg, o filme de Carpenter foi acusado de violência excessiva e de recriar imagens desagradáveis ​​”em nome da atrocidade”, segundo publicações como a Newsweek. As mutações do alienígena, em particular, foram alvo das críticas mais duras; muitos consideraram os efeitos especiais grotescos, até mesmo desnecessários, comparando as criações de Bottin a um excesso macabro e barroco. Apesar disso, esses mesmos efeitos são hoje considerados revolucionários e essenciais para a imersão no universo de Carpenter.

O que muitos críticos não conseguiram compreender na época é que o realismo da criatura era resultado do esforço hercúleo de Bottin. Cada membro retorcido, cada olho saltando da órbita, cada mandíbula impossível era produto de um trabalho artesanal meticuloso, combinando engenhosidade mecânica, maquiagem, látex e animatrônico. Não havia computação gráfica: tudo tinha que parecer real, e cada transformação tinha que ser aterrorizante porque precisava ser convincente para a câmera e para os personagens.

The Kobal Collection

Um preço quase fatal para Rob Bottin

O comprometimento de Bottin com o projeto não conhecia limites. Durante meses, ele trabalhou em turnos exaustivos, às vezes por semanas a fio, chegando a dormir em sua própria oficina. A intensidade do trabalho rapidamente cobrou seu preço. Ao término das filmagens, Bottin contraiu pneumonia dupla e uma úlcera hemorrágica que exigiu hospitalização imediata. O jovem prodígio dos efeitos especiais havia levado seu corpo ao limite para que o filme pudesse alcançar a visão que Carpenter havia idealizado.

Ciente da gravidade, Carpenter tomou decisões drásticas. Algumas sequências, como a do cão mutante que desencadeia o terror na base antártica, tiveram que ser concluídas pelo lendário Stan Winston, já que Bottin estava doente demais para continuar com as poucas cenas de efeitos especiais que precisavam ser refilmadas ou finalizadas. No entanto, mesmo com a intervenção de Winston, a maioria dos efeitos que aterrorizam o público carrega a marca do jovem artista, que sacrificou sua saúde em busca da perfeição.

Universal Pictures

Pesadelos e obsessão criativa

O esgotamento físico não foi o único preço a pagar. Bottin confessou anos mais tarde que sofria de pesadelos recorrentes com as criaturas que criava. Dormia mal, sonhando com membros contorcidos, corpos se transformando em formas impossíveis e fluidos se espalhando como se estivessem vivos. O nível de imersão psicológica que atingiu foi tal que, durante meses, o jovem artista viveu preso entre a criação e o horror, incapaz de se separar da carne retorcida que ganhava vida sob suas mãos.

Esses pesadelos não eram meros exageros: refletiam o impacto do trabalho extremo na mente humana. Estar constantemente rodeado por modelos grotescos, sangue artificial e órgãos falsos, aliado à pressão de uma estreia iminente e à necessidade de inovar, transformava o processo criativo numa experiência quase extrema. Bottin não estava apenas criando efeitos especiais; ele vivia no mesmo universo aterrador que queria levar para as telas.

Universal Pictures

Hoje, mais de 40 anos depois, o trabalho de Bottin foi reconhecido. O Enigma de Outro Mundo é considerado uma obra-prima do cinema de terror e ficção científica, e os efeitos especiais da criatura são um de seus elementos mais celebrados. A meticulosidade com que Bottin construiu cada criatura e efeito, sua habilidade em combinar o grotesco e o fascinante, e sua fidelidade ao espírito da história original de John W. Campbell foram reconhecidas como um marco que influenciaria décadas do cinema de gênero.

A ambiguidade da criatura, sua constante metamorfose, sua morfologia fluida e sua capacidade de se infiltrar em corpos humanos tornaram-se um marco na história do terror cinematográfico. O público hoje pode se maravilhar com a perfeição de cada transformação, mas raramente se lembra do preço que Rob Bottin pagou para dar vida a essa perfeição: sua saúde, noites de sono e paz de espírito. Sem sua dedicação absoluta, muitos dos momentos mais inesquecíveis do cinema de terror não existiriam.

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