A política de Caucaia, segunda maior cidade do Ceará, vive um momento delicado. O coronel reformado da Polícia Militar Aginaldo de Oliveira, atual secretário municipal de Segurança Pública, está licenciado do cargo desde o dia 21 de maio. A justificativa oficial é “motivo de doença em pessoa da família”, mas o afastamento acontece justamente no momento em que sua esposa, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), deixou o Brasil e se refugiou nos Estados Unidos e, posteriormente, na Itália.
O movimento causou ruído nos bastidores políticos e expôs novamente o nome de Aginaldo, que já vinha tentando emplacar carreira eleitoral própria no Ceará. Em 2022, ele concorreu a deputado federal e, em 2024, tentou a Prefeitura de Caucaia. Nas duas ocasiões, não obteve sucesso. Na disputa municipal, inclusive, terminou em último lugar entre os principais concorrentes, com cerca de 23,6 mil votos — número que frustrou expectativas construídas com base no apoio de figuras da direita nacional.
Mesmo com a derrota nas urnas, Aginaldo se manteve politicamente ativo. Apoiou o atual prefeito, Naumi Amorim (PSD), que venceu a eleição e o nomeou secretário de Segurança Pública — pasta estratégica em uma cidade que convive com altos índices de criminalidade e influência de facções. A escolha foi vista como uma retribuição política e uma tentativa de manter acesa a chama de um projeto eleitoral futuro.
No entanto, a inesperada licença do cargo, coincidente com a controversa saída de Zambelli do país, levanta questionamentos. Enquanto a parlamentar é investigada pela Polícia Federal e teve sua situação agravada após a operação que apreendeu celulares e documentos, Aginaldo desaparece da cena justamente no momento em que deveria mostrar resultados concretos na gestão.
Analistas políticos locais apontam que o episódio pode minar ainda mais sua credibilidade. “Ele perdeu duas eleições e agora se ausenta de uma função de alta responsabilidade. Fica difícil construir uma imagem de gestor público eficiente dessa forma”, afirma um cientista político ouvido pela reportagem.
Internamente, a Prefeitura de Caucaia evita alimentar a polêmica. O prefeito Naumi Amorim não fez declarações públicas sobre o caso, limitando-se a formalizar a licença de Aginaldo até o fim de junho. Nos bastidores, porém, já há especulações sobre uma possível substituição definitiva no cargo, a depender da evolução do caso Zambelli.
A deputada, por sua vez, tem dado sinais de que não pretende voltar ao Brasil tão cedo, o que pode estender ainda mais a ausência de Aginaldo — e aprofundar o desgaste de sua imagem, tanto local quanto nacionalmente.
Enquanto isso, a cidade de Caucaia segue enfrentando desafios graves na segurança pública, sem comando titular na pasta responsável. A ausência de Aginaldo, nesse contexto, deixa um vácuo administrativo e uma interrogação política.