A mostra celebra a memória audiovisual e reforça o papel do cinema na construção da história brasileira.
A CineOP (Mostra de Cinema de Ouro Preto) celebrou sua 20ª edição reafirmando seu papel como mais do que um festival de cinema, um fórum para a construção de políticas públicas voltadas à preservação do patrimônio cinematográfico brasileiro. Foi nesse espaço que nasceram iniciativas fundamentais como a criação da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA) e o Plano Nacional de Preservação Audiovisual.
Em 2025, um dos temas foi “Preservar é Resistir”, uma afirmação da importância de proteger a memória audiovisual em um país onde arquivos ainda enfrentam ameaças de apagamento, por falta de financiamento ou tentativas de privatização.
Um Olhar Inquieto: O Legado de Jorge Bodanzky
Vinícius Terror_Universo Produção
Entre os destaques da mostra, o documentário Um Olhar Inquieto: O Cinema de Jorge Bodanzky, dirigido por Liliane Maia e pelo próprio Bodanzky, se destacou como uma obra que dialoga diretamente com essa missão. O filme revisita o legado do cineasta por meio de seu acervo pessoal com milhares de fotografias e dezenas de horas de imagens filmadas entre os anos 1960 e 1990, digitalizadas pelo Instituto Moreira Salles.
Uma dessas imagens era um sobrevoo sobre uma aldeia indígena Cinta Larga, que motivou a realização do documentário. Segundo Bodanzky, ao rever a cena, se perguntou: “O que aconteceu com eles? Aquela aldeia ainda existe? Fomos atrás. Isso foi a motivação do filme.”
Além de resgatar memórias, “Um Olhar Inquieto” também reflete sobre as transformações técnicas e éticas no fazer cinematográfico, especialmente em territórios indígenas. Para o diretor, a popularização dos celulares estabeleceu um novo patamar de igualdade entre quem filma e quem é filmado: “Hoje, eles também têm celular. Isso mudou tudo. Antes havia desconfiança. Agora é de igual pra igual.” Liliane Maia complementou dizendo que o projeto nasceu do acaso e cresceu como um processo de reconstrução.
“Paraíso”: Vencedor da Primeira Edição Competitiva

Leo Fontes_Universo Produção
Outro destaque da mostra foi Paraíso, dirigido por Ana Rieper, que venceu o prêmio do júri na primeira edição competitiva da CineOP, celebrando também os 130 anos do Arquivo Público Mineiro. O filme foi reconhecido como um ensaio audiovisual que interpreta o Brasil a partir de imagens de arquivo de múltiplas origens. O júri destacou sua pesquisa rigorosa, inventividade, humor, empatia e compromisso humanista, ressaltando sua contribuição para a preservação e ressignificação da memória nacional.
Essa abordagem está em sintonia com uma das temáticas centrais da CineOP: o uso criativo de imagens de arquivo na construção de novos filmes. A mostra valoriza produções que resgatam acervos familiares, públicos e privados, compondo uma memória tanto íntima quanto coletiva.
A Carta de Ouro Preto 2025, escrita durante o evento, reforçou a urgência de uma política nacional que estrutura e descentraliza a preservação audiovisual, com especial atenção aos arquivos comunitários e à digitalização de acervos em risco.