Maisa Silva tinha a autenticidade, mas precisava de um visual que chamasse atenção. Sua referência foi Shirley Temple, que conheceu o lado sombrio da fama.
Até as grandes estrelas se inspiram em outras ao longo da carreira – e, na TV, isso não é segredo pra ninguém. Existem certas “fórmulas do sucesso” que, mesmo sendo implícitas, continuam funcionando com o passar dos anos. E Silvio Santos sabia muito bem disso quando decidiu qual seria o visual artístico de Maisa Silva no início de sua trajetória.
Sim, a autenticidade e o carisma inconfundível da artista na infância a tornaram inesquecível no imaginário do público. Mas boa parte desse encanto também vem de uma referência curiosa (e um tanto polêmica), inspirada em uma estrela de Hollywood. Por trás do visual fofo e cativante, há uma história bem mais complexa e lamentável.
A grande inspiração de Maisa
Maisa chegou ao SBT em 2007, aos cinco anos, e encantou a todos com seu jeito único de ser. Logo, Silvio Santos enxergou um grande potencial na menina e soube que, para coroar o sucesso, uma mudança deveria ser feita: a de visual. Foi então que ele chamou a filha, Silvia Abravanel, então diretora do Bom Dia & Cia, e deu uma ordem inesperada.
“Ele falou: ‘Dona Silvia, você conhece a Maisa? […] Amanhã, que era um sábado, no caso, você passa a dirigir ela. Mas você conhece a Shirley Temple? Então, eu quero a Maisa de Shirley Temple’“, contou Silvia em entrevista ao podcast PodC Mais.
A atriz mirim Shirley Temple, estrela de A Pequena Órfã (1935) e de outros clássicos do cinema, era conhecida pelos cabelos curtos com cachos bem definidos, vestidos rodados e, claro, por sua personalidade encantadora e sem filtros.
Divulgação/SBT
No entanto, o look inspirado no ícone de Hollywood representaria uma mudança brusca para a garota. “A Maisa tinha um cabelão enorme, e a Shirley Temple tinha cabelo curto. Eu acabei de conhecer essa menina e já tinha que pedir para cortar o cabelo”, afirmou Abravanel.
No fim, a jovem artista não deixou cortar suas madeixas. “A Maisa chegava, naquela época na televisão, às 4 horas da manhã, já que demoravam quase três horas para arrumar o cabelo. Ela não deixou cortar, então a gente tinha que fazer rolinhos por rolinhos […] Tinha que enrolar, enrolar, enrolar, colocar grampos para deixá-lo curtinho.”
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Depois da transformação, Maisa estreou no programa de desenhos Sábado Animado e o visual tornou-se a marca registrada da artista. Durante uma participação no Programa Silvio Santos, em novembro de 2008, ela chegou a brincar com a semelhança com Shirley: “Sou praticamente a cover dela, mas o narizinho dela era mais fino que o meu.”
Maisa só se despediu dos cachinhos e dos vestidos infantis em 2012, ao interpretar a personagem Valéria na versão brasileira da novela Carrossel.
A triste história de Shirley Temple
Apesar de fofa e encantadora, a história de Shirley Temple vai muito além do carisma que mostrava nas telonas. Nos anos 1930, quando tinha apenas cinco anos, ela se tornou um fenômeno absoluto, a ponto de salvar a produtora Fox da falência durante a Grande Depressão.
Ao longo da infância, Shirley estrelou diversas produções que marcaram o cinema – foram 29 filmes antes dos 10 anos. Porém, por trás do brilho de Hollywood, havia um lado sombrio: a atriz mirim era frequentemente sexualizada em cena, seja nas interações com atores adultos ou nas roupas curtas que a deixavam exposta e desconfortável.
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Durante o auge de sua fama, Shirley também enfrentou uma rotina exaustiva de gravações e até episódios de assédio e ameaças de morte. Além disso, seu pai acabou perdendo boa parte de sua fortuna por causa de investimentos malsucedidos.
A carreira artística de Shriley Temple foi tão intensa que, aos seis anos, Shirley recebeu um Oscar honorário, tornando-se a primeira artista a conquistar o Prêmio Juvenil da Academia.
No entanto, sua carreira perdeu força na fase adulta, e ela deixou o cinema em 1950, aos 22 anos. Em 2014, aos 85 anos, a estrela faleceu, vítima de doença pulmonar obstrutiva crônica.




