Quando Donald Trump fala, o mundo escuta — e muitas vezes com espanto. Desta vez, o alvo foi um medicamento tão comum quanto presente em casas de todo o planeta: o paracetamol. Em discurso de campanha, o ex-presidente americano afirmou que o uso do remédio durante a gravidez poderia estar ligado ao autismo em crianças. A promessa de rever rótulos e emitir alertas oficiais, caso volte à Casa Branca, imediatamente acendeu o alerta da comunidade médica.
A declaração, que também trouxe de volta a já desmentida suspeita de relação entre vacinas e autismo, não caiu no vazio: mobilizou organismos internacionais, gerou manchetes e abriu espaço para mais um embate entre ciência e política.
O que está em jogo
O paracetamol, conhecido no Brasil como um dos analgésicos e antitérmicos mais acessíveis, é frequentemente prescrito a gestantes para controle de febre e dor. Isso porque outras opções, como anti-inflamatórios, podem oferecer riscos reais ao bebê.
Dizer que esse medicamento pode causar autismo, portanto, não é uma simples opinião — é uma mensagem capaz de gerar medo em milhões de grávidas e de influenciar condutas médicas.
O que a ciência sabe até agora
Pesquisas já investigaram se existe alguma ligação entre o uso do paracetamol na gravidez e alterações neurológicas no desenvolvimento infantil. Algumas apontaram correlação estatística, mas nenhuma conseguiu provar que o medicamento seja a causa do autismo.
Esse detalhe é fundamental: associação não é causalidade. Em muitos casos, a febre ou a condição que levou a gestante a tomar o remédio pode ter mais peso no resultado do que o próprio medicamento.
Não à toa, tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) reforçaram nos últimos dias que o paracetamol continua sendo considerado seguro, desde que usado em doses adequadas e pelo menor tempo necessário.
Os riscos de um discurso sem lastro científico
Ao associar o remédio ao autismo sem evidência sólida, Trump não apenas distorce o debate científico: ele abre espaço para três consequências graves:
- Gestantes desinformadas podem evitar um tratamento seguro, enfrentando dores e febres sem necessidade.
- Movimentos antivacina ganham combustível para questionar práticas médicas já consolidadas.
- Famílias de pessoas autistas podem ser expostas a mais estigma e culpabilização, reforçando preconceitos.
Muito além da medicina
O episódio mostra como a saúde pública pode se tornar campo de disputa política. Ao escolher temas sensíveis, como o autismo, Trump não apenas desafia a comunidade científica, mas também aciona emoções profundas de medo e insegurança em eleitores.
No fim, mais do que discutir um remédio, o debate revela a força da desinformação quando usada como ferramenta de poder.




