O monstruoso sucesso de Jurassic Park levou o famoso filme dirigido por Steven Spielberg a se tornar uma franquia que pareceu se esgotar em 2001 com o lançamento de Jurassic Park 3. No entanto, a saga ressuscitou em 2015 com Jurassic World e este ano chegou aos cinemas sua sétima sequência, na qual a presença de Scarlett Johansson se apresenta como o novo grande atrativo para levar as pessoas às salas.
Jurassic World: Recomeço não chega a impressionar, mas há uma cena específica do filme de Gareth Edwards que claramente se inspira em outra de Jurassic Park. Ao revisitar os primeiros minutos da obra de Spielberg para comparação, é impossível não ficar completamente absorvido pelo filme original até seus créditos finais. Recomeço simplesmente não compete na mesma categoria do clássico, ainda que tente replicar elementos similares.
Sejamos justos e reconheçamos que nenhuma das sequências que haviam sido lançadas até agora de Jurassic Park sequer se aproximava de seu nível – nem o próprio Spielberg foi capaz de conseguir isso com O Mundo Perdido. Por isso, zero surpresas com o fato de Recomeço também não ter conseguido, mas é que em sua campanha promocional insistiram que era um retorno às raízes e há mais de uma cena que aponta nessa direção, mas conseguir essa magia é incrivelmente difícil.
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Já não é somente que em Hollywood espremem uma fórmula até a exaustão, é que além disso a inocência do público não é a mesma. Isso é algo que Spielberg soube aproveitar muito bem no primeiro filme para despertar um sentimento de fascinação no espectador que se traduziu na paixão de muitas crianças pelos dinossauros. Mas reduzir o atrativo de Jurassic Park a isso seria um erro.
Como comentava antes, há uma cena de Recomeço que me remetia de forma direta a outra, mais especificamente ao momento em que os personagens de Sam Neill e Laura Dern descobrem atônitos que naquele parque há dinossauros. Uma maravilhosa sequência que serve por sua vez para que o espectador acredite em algo tão impossível e morra de vontade de conhecer todos os detalhes a respeito.
Em contrapartida, Jurassic World 4 opta por um substituto para tentar fazer o espectador lembrar desse momento em vez de tentar criar uma cena que tenha uma função similar. Edwards até recorre ao famoso tema de John Williams para que a réplica seja o mais similar possível, mas na hora da verdade é um remendo na metade do filme que não vem de lugar nenhum e também não vai a lugar algum.
Já Spielberg utiliza isso como caldo de cultivo para mais coisas, como quando Ellie Sattler fica obcecada em saber o que está acontecendo com um pobre tricerátops doente ou quando Alan Grant e as duas crianças encontram brachiosauros. Em Jurassic Park fica a sensação de que tudo está medido, inclusive recuperando aquela frustração dos personagens por não terem conseguido ver certos dinossauros durante o início de sua fracassada visita, apenas para depois mostrar o quão letais eles são.

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De fato, até os garotos interpretados por Joseph Mazzello e Ariana Richards têm uma função narrativa clara muito além de serem os representantes na tela dos mais jovens da casa, já que servem para que o personagem de Neill descubra esse instinto paternal que brilhava por sua ausência durante o início de Jurassic Park. Em Recomeço também há menores de idade, mas a subtrama familiar é um acréscimo muito pouco trabalhado que seria melhor se tivesse sido eliminado. O filme não perderia nada e ainda por cima o ritmo melhoraria.
Depois há outro problema claro e persistente nas sequências: a necessidade de haver novos dinossauros ainda maiores e mais temíveis que o Tiranossauro. Neste caso temos um cujo design parece inspirado pelo xenomorfo de Alien que, claro, semeia o caos, mas em todo momento se sente como uma solução um tanto preguiçosa. Pelo menos Edwards é um pouco mais generoso que nas sequências anteriores ao mostrar dinossauros engolindo humanos que passam por ali, mas é preciso mais do que isso.
De fato, é claro que Edwards é um diretor muito talentoso, mas aqui não pode ou simplesmente não o deixam fazer nada que realmente se aproxime daquele sentido de espetáculo que Spielberg tão bem imprimia em Jurassic Park. Pouco importa que haja alguns detalhes visuais que não pareçam tão bons 32 anos depois, o filme tem uma força imparável e uma capacidade de deslumbrar o espectador sem igual. Tudo isso confiando sempre em uma história simples, mas bem construída para dar forma a um dos melhores blockbusters da história.

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O mais positivo sobre Jurassic World: Recomeço é que pelo menos não se torna entediante e além disso é uma melhoria em relação àquela decepção que foi Domínio. O problema é que nunca confia realmente no que tem. Por exemplo, o personagem de Johansson tem bastante apelo durante o primeiro ato, mas depois acaba se tornando mais uma peça genérica de uma engrenagem pensada para voltar a confiar no que já funcionou, mas sem nenhum tipo de paixão pelo material.
No final, o maior mérito de Jurassic World: Recomeço está em ressaltar a grandiosidade de Jurassic Park, elevando ainda mais o feito cinematográfico alcançado por Spielberg naquela época. Apesar de o filme original apresentar suas próprias imperfeições, estas se tornam quase imperceptíveis quando comparado a qualquer uma das sequências que o sucederam.