Alguns filmes são tão impactantes que só podem ser vistos uma vez na vida.
Em 1973, William Friedkin mal sabia que estava prestes a traumatizar gerações inteiras de espectadores com O Exorcista. O filme de terror, ainda considerado um dos mais assustadores de todos os tempos, foi um sucesso fenomenal.
Um choque inesquecível
Quando você assiste a O Exorcista pela primeira vez, o choque é absolutamente devastador. Com seu realismo quase documental, o filme te agarra pela barriga e não te solta mais, causando uma angústia que dificilmente outro filme te fará sentir. Por isso, é uma obra-prima que muitos conseguem ver só uma vez na vida.
Sua atmosfera sombria e pesada deixa uma marca indelével na mente do espectador, e algumas cenas absolutamente aterrorizantes permanecem para sempre. Todos nos lembramos das sequências com Regan (Linda Blair) possuída, proferindo obscenidades com aquela voz do além-túmulo, que assustaria qualquer um. Uma única exibição daquele rosto inchado e cheio de cicatrizes é suficiente para nos traumatizar!
Warner Bros. Pictures
Uma voz aterrorizante
E embora o rosto de Regan seja obviamente uma fonte de angústia, não seria nada sem aquela voz cavernosa – que, claro, não é de Linda. Um dos muitos desafios da pós-produção foi encontrar a voz do demônio. A jovem atriz havia gravado suas falas, mas Friedkin queria capturar aquela famosa voz “áspera, poderosa, profunda, ensurdecedora”, como descrita pelo romancista William Peter Blatty no romance original.
E uma voz, em particular, deixou uma impressão duradoura no diretor: a de Mercedes McCambridge. Inesquecível como Emma Small no faroeste Johnny Guitar, a atriz também ganhou um Oscar por A Grande Ilusão, e foi seu timbre único que deixou uma marca indelével em Friedkin.
Mergulhando de cabeça no projeto, McCambridge voltou a beber e fumar, na tentativa de alcançar a voz perfeita que William buscava. O diretor não queria que ela fosse tão longe, mas a atriz insistiu. “Não se preocupe. O que importa é que você consiga o resultado que busca”, disse ao cineasta.
Warner Bros. Pictures
Após o sucesso do filme, a polêmica explodiu, com a indústria questionando o trabalho de Linda Blair. “A atuação de Linda foi questionada, e acho que foi isso que lhe custou o Oscar. A velha guarda de Hollywood tentava de todas as maneiras impedir que O Exorcista fosse excessivamente aclamado”, observou Friedkin em seu livro, The Friedkin Connection: Memoirs of a Legendary Filmmaker.
“Não é rancor falando. Meu amigo Jack Haley Jr. estava produzindo o Oscar naquele ano. Ele me contou que havia um rumor entre membros influentes da comunidade de que, se O Exorcista ganhasse o prêmio de Melhor Filme, isso mudaria a indústria cinematográfica para pior e para sempre”, revelou.
De qualquer forma, O Exorcista permanecerá para sempre um dos maiores clássicos da história do cinema – mas, como algumas obras muito radicais, ver só uma vez já é suficiente para nos lembrarmos pelo resto da vida.




