Religioso tinha uma relação forte com a sétima arte.
Papa Francisco nos deixou na penúltima segunda-feira, 21 de abril, aos 88 anos. Uma das grandes figuras religiosas da contemporaneidade, o Chefe da Igreja Católica sempre teve uma relação próxima com a cultura, incentivando, inclusive, a conexão das pessoas com a sétima arte.
Em um encontro da Associação Católica de Operadores de Cinema, ele afirmou que “a visão de uma obra cinematográfica pode abrir várias fendas na alma humana. Tudo depende da carga emocional que é dada à visão. Pode haver evasão, emoção, risada, medo e interesse. Tudo está ligado à intencionalidade na visão, que não é um simples exercício ocular, mas algo mais. É o olhar sobre a realidade.”
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Além desse relacionamento com a execução da arte, ele mesmo foi protagonista de algumas produções – a maioria documentários, claro. Participou de Papa Francisco: Um Homem de Palavra, de Wim Wenders, e Francisco, de Evgeny Afineevsky, entre outros.
Ainda que tenha sido pauta de alguns títulos, ele também tinha seus filmes favoritos. Muitos deles, representam parte da sua visão sobre o mundo e a forma como conduzia sua vida como líder religioso, Abaixo, confira alguns dos longas que tocaram o coração do Papa Francisco.
A Estrada da Vida (1954), de Federico Fellini
Paramount Pictures
“A Estrada da Vida, de Fellini, é talvez o filme de que mais gostei. Identifico-me com aquele filme, no qual está implícita uma referência a São Francisco”, disse ele em 2013 durante uma entrevista ao L’Osservatore Romano.
Sinopse: Gelsomina (Giulietta Masina) é vendida pela mãe para o brutamonte Zampanò (Anthony Quinn), estrela de um número em que arrebenta correntes amarradas em seu corpo. A jovem auxilia Zampanò e passa a também se apresentar como palhaça, seguindo o estilo de Chaplin. A garota é constantemente maltratada pelo homem, que ainda a agride sempre que tenta fugir. Quando os dois se juntam a um circo, Gelsomina fica encantada com Bobo (Richard Basehart), provocando ciúmes em Zampanò.
Roma, Cidade Aberta (1945), de Roberto Rossellini
Minerva Pictures
Papa Francisco citou o longa na mesma ocasião, há 12 anos: “Um outro filme de que gostei muito foi Roma, Cidade Aberta.”
Sinopse: Roma, 1944. Um dos líderes da Resistência, Giorgio Manfredi (Marcello Pagliero), é procurado pelos nazistas. Giorgio planeja entregar um milhão de liras para seus compatriotas. Ele se esconde no apartamento de Francesco (Francesco Grandjacquet) e pede ajuda à noiva de Francesco, Pina (Anna Magnani), que está grávida. Giorgio planeja deixar um padre católico, Don Pietro (Aldo Fabrizi), fazer a entrega do dinheiro. Quando o prédio é cercado, Francesco é preso pelos alemães e levado para um caminhão. Gritando, Pina corre em sua direção e é metralhada no meio da rua. Giorgio foge para o apartamento de sua amante, Marina (Maria Michi), sem imaginar que este seria o maior erro da sua vida.
Rapsódia em Agosto (1991), de Akira Kurosawa
Shochiku
Durante uma visita à paróquia romana de Santa Maria a Sotteville, no início de 2017, o Papa recomendou este filme para refletir sobre o diálogo entre gerações:
“Quando estava em Buenos Aires, fiz uma catequese com um filme, e depois fiz as pessoas refletirem sobre esse filme, e no final veio a catequese, na semana seguinte, então eles tiveram uma semana para pensar sobre o filme. […] Por exemplo, para explicar o diálogo entre avós e crianças, que é tão importante, há um filme de 20 anos atrás, que os recomendo – vão encontrá-lo – Rapsódia em agosto. É japonês, de Kurosawa (via Vatican News).”
Sinopse: Uma mulher idosa mora em Nagasaki, no Japão, e está tomando conta dos seus quatro netos durante as férias. Lá, eles aprendem sobre a bomba atômica que atingiu o local em 1945 e como o fato acabou matando o avô deles.
Andrei Rublëv (1966), de Andrei Tarkovsky
Tamara Ogorodnikova
Em um encontro com Fundação de Organização de Entretenimento em 2023, Papa Francisco abordou sua admiração pelo filme:
“Penso naquela obra-prima que é Andrei Rublëv, de Tarkovsky: o artista permanece mudo devido ao trauma da guerra. Isso faz pensar sobre o que está acontecendo no mundo hoje. Rublëv não pinta mais, nem fala mais. Ele vagueia perdido em busca de significado, até testemunhar a fusão de um sino. E ao primeiro toque daquele grande sino seu coração se abre novamente, sua língua se solta, ele começa a falar novamente e começará a pintar novamente. E a tela se enche com as cores dos seus ícones (via Vatican News)”.
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Sinopse: O longa acompanha a vida de Andrei Rublev, o grande pintor de ícones da Rússia do século XV, um período de intensa turbulência e também de diversas dificuldades. Na época o país sofria com a pobreza, a rigidez da igreja ortodoxa e também as invasões tártaras. Nesse cenário caótico, estão inseridos os diversos episódios da vida de Andrei, que mais tarde abandonaria seu trabalho como pintor, para se dedicar a Deus.




