Diferentemente da M-CHAT, a Mini-TEA atende crianças de 2,5 a 12 anos. Com 48 perguntas simples, respondidas pelos pais ou responsáveis, o questionário pode ser aplicado em cerca de dez minutos e não requer treinamento específico para ser utilizado.
“Ela é muito fácil. Quem lê as instruções já consegue sair aplicando. Criamos um instrumento que pode ser usado por profissionais da saúde, da assistência social e até professores, algo que agiliza muito a triagem”, esclarece o pesquisador.
Além disso, a Mini-TEA ajuda a organizar as filas de diagnóstico, priorizando quem realmente precisa de avaliação detalhada. “É uma escala que, além de triar quem precisa, descarta autismo onde não há sinais, evitando diagnósticos desnecessários. Isso impacta diretamente a gestão de recursos do sistema público.”
Com a ferramenta, os pesquisadores conseguiram excluir do espectro duas em cada três crianças que estavam na fila de espera para serem avaliadas.
Outro aspecto fundamental da Mini-TEA é sua capacidade de atender famílias que, muitas vezes, não têm acesso ao pediatra no momento ideal para triagens. “A Mini-TEA foi pensada para resgatar essas crianças que ficaram de fora do diagnóstico inicial e ajudar a dar um passo à frente na organização do sistema de saúde”, explica Forcelini.
Dados que guiam políticas públicas
O estudo de Coxilha também teve implicações imediatas para a saúde pública. A Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul já iniciou a implementação da escala na rede estadual, com treinamentos regionais para disseminar o uso da ferramenta.
O dado de frequência encontrado no estudo foi especialmente relevante, pois reflete a realidade local com mais precisão do que levantamentos amostrais. “Nós praticamente dobramos o número de casos já conhecidos no município. Isso reforça a importância de estudos que avaliem todas as crianças, porque muitos casos podem passar despercebidos”, pontua o pesquisador.
O impacto do estudo vai além de Coxilha. A partir dos resultados, o governo estadual do Rio Grande do Sul tem promovido esforços para replicar o modelo em outras regiões. A expectativa é que os dados ajudem a moldar políticas públicas que atendam melhor as demandas de famílias que lidam com o TEA, oferecendo diagnósticos mais rápidos e precisos.
Um olhar para o futuro
A equipe da UPF planeja expandir os estudos de frequência para outros municípios e regiões do Brasil, além de acompanhar a evolução dos casos identificados em Coxilha.
A continuidade do trabalho não visa apenas compreender a prevalência do TEA, mas também responder a questões ainda sem consenso no campo. Uma delas é se o número de casos está aumentando ou se o que ocorre é um maior reconhecimento do transtorno devido à conscientização e melhores ferramentas de diagnóstico.




